quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Lauro Mesquita fala do IMBUIA




A volta do Grupo Imbuia
Lauro Mesquita
Publicado originalmente no blog do Guaciara: http://guaciara.wordpress.com/2009/05/28/a-volta-do-grupo-imbuia/

Ensaio do Imbuia anos 80

Jorge Carioca, Mesquita, Raimundo, Nandinho, Maurício, Pricila, Claret e Claudinha

“Minas é um lugar onde não acontece nada, mas todo mundo lembra de tudo.” Eu ouvi essa ótima frase na semana passada em uma conversa do escritor Humberto Werneck sobre seu livro O santo sujo. Na sua fala, ele descrevia um pouco dessa veia memorialística de Minas Gerais e tirava um barato da vocação do mineiro pra falar da vida dos outros. Buscar sentido no que acontece na nossa vida – e na dos outros também, lógico – é mesmo uma característica muito forte do interior.
Sábado eu vou lá pra Pouso Alegre recuperar essas memórias, que são muita coisa pra pouca gente e têm um significado gigante pra mim. Vou assistir o aguardado retorno do Grupo Imbuia. Diferente da maior parte da música que a gente posta por aqui, o Imbuia não tem vídeos no YouTube. Pouquíssimos links do Google apontam para eles e não chegam a dez as músicas gravadas em estúdio pelo grupo.
Em uma realidade em que a presença na Internet é quase um atestado de existência, a história de um grupo que permanece interessante pra tanta gente, mesmo sem ter gravado, pode parecer um disparate, mas é a persistência das músicas deles na memória de tantas pessoas que faz o Imbuia ser um assunto tão legal.
As canções compostas pelo grupo tiveram e ainda têm um significado muito profundo para quem tem entre 30 e 60 anos e nasceu na minha cidade, Pouso Alegre. Gente que viveu por lá nos anos 80 do século passado. Mas eu acho que o Imbuia significa ainda um pouco mais do que isso.
Em primeiro lugar, porque eu cresci asistindo os ensaios quase diários que aconteciam na sala da minha casa. As formações foram várias. Mas o grupo teve um núcleo básico: Mesquita (meu pai), Raimundo, Carioca, Maurição e Nandinho. A formação misturava migrantes que tinham acabado de chegar a Pouso Alegre, com quem nascera lá e tinha família rica, gente com família muito humilde, gente de classe média. Mas o mais interessante era que todos atuavam como personagens de um processo de industrialização que começava a tomar conta do Sul de Minas.
Talvez por causa dessas origens tão variadas e pela capacidade que todos eles (e também de vários outros integrantes que passaram pelo grupo) têm de contar histórias, o Imbuia representava musicalmente os sentimentos dos jovem que viviam na cidade naquela época. Eram eles que contavam para nós a transformação que se passava por lá. Uma transformação muito profunda. Pouso Alegre deixava de ser um município que vive da roça para se tornar um lugar mais complexo, com rede de serviços e fábricas.
Na época, as informações circulavam menos e era muito difícil e caro gravar discos. As músicas, por isso, tinham uma urgência e uma durabilidade muito maiores. Para quem vivia o que parecia uma revolução, seria muito triste ser ignorado pelo resto do mundo. O Imbuia dava a sensação que alguém se importava, pelo menos era assim que eu sentia.
Ao contrário do que pode parecer pelo meu relato, as lindas histórias cantadas em meio a trabalhados arranjos vocais e a harmonias tocadas pelos violões, viola, baixo, flauta e percussão falavam sobre amores, sobre a vida das pessoas, sobre o curso do rio e sobre uma saudade de uma coisa que não está mais lá, apesar de estar presente no jeito com que as pessoas sentem a vida (”Olha lá vai meu rincão/ quando essas água subir/ vou ficar desconsolado/ quando o roçado sumir…”).
O Imbuia na minha opinião cantava o que muita gente que vivia em Pouso Alegre sentia. Canções como “Coleirinho”, “Imbuia 1″, “Te Entregar”, “Zóio D’Água” e mais um monte ainda levam gente em Pouso Alegre às lágrimas quando tocadas em alguma festa ou em algum boteco. E acho que a qualidade mais bonita desse grupo foi entender o que se passava na cabeça e nos corações das pessoas que viviam ao lado deles.
O que é mais curioso pros dias de hoje, é que essa musicografia foi toda composta pra isso. Eles estavam dialogando com as pessoas que viviam ali pelo Sul de Minas. Faziam isso sem se preocupar com uma carreira, com uma vontade de sucesso nacional – no fundo, todos deviam sonhar com essa possibilidade -, mas tudo parecia fazer mais sentido dentro dessa lógica quase caseira.
É duma época em que as bandas se chamavam grupo ou conjunto (valeu Tiago) . E daí, o pessoal do Imbuia se mandava pros festivais pelos interiores de Minas, São Paulo, acho que até Paraná, mas eram sempre cidades do interior. Iam lá, tocavam duas ou três músicas, quase sempre chegavam à final, às vezes pegavam um trofeuzinho, nunca o principal. Tomavam umas, faziam uns amigos e voltavam pra casa.
Talvez eles ainda gravem algumas das centenas de músicas do Imbuia – fariam um bem danado à música se fizessem isso. Agora é bem fácil. Alguém vai acabar colocando um pedacinho desse show no YouTube. Só é uma pena fazerem isso depois do grupo já ter perdido o Carioca e o Nandinho para a morte, mas as suas músicas, aqueles hits que marcaram a vida de alguns poucos milhares, mantêm essa mística do que é o Grupo Imbuia. Eu vou estar lá no sábado e já sei que vai ser muito bonito.
E pra quem quiser ir, o show do Grupo Imbuia vai ser nesse sábado (30 de maio), às 19h30 , no Campus Fátima da Univás, em Pouso Alegre, dentro do II Festival de Inverno da Univás.

2 comentários:

  1. Quem disse que o que é bom dura pouco??
    o Imbuia está aí para desmentir.
    Ele é eterno no sul das minas.
    Bravo Mesquita!!!!

    Abraço gde,

    Antonio Homero

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  2. Quem me dera não estar a 2000km de distância, na Bahia e estar por ai para curtir este show. A última apresentação que vi foi no clube literário de Pouso Alegre, já nos anos 90. Foi a abertura do show do Geralso Azevedo, mas com todo o respeito a este músico, o Imbuia roubou a cena e fez um show memorável e apoteótico. Enquanto isso, tome Axé na Bahia.
    Kimura

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