quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Texto Genial de Fabinho Paletó

IMBUIA


Imbuia é madeira de lei, cerne puro. Em Pouso Alegre, Imbuia é também um bairro rural, lá pelos lados de Borda da Mata, por onde antigamente passava uma linha de trem.
O trem não existe mais, nem existia nos idos dos anos 70 e 80, quando explodiu um movimento cultural que aglutinou o que melhor havia em termos de música e poesia na região. O ar necessário para respirar abasteceu também a arte de um grupo que fez das noites e madrugadas de Pouso Alegre momentos de confraternização e catarse poética sem precedentes na história da cidade.
O simples fato de estar ali ao lado justificava o fato de ter saído de casa para se encontrar com a arte em seu estágio original. Composições que estão até hoje na memória de milhares de pessoas nasceram ali, nas mesas de bares, nas calçadas, nas praças, nas ruas.
Essas paisagens, urbanas e rurais, foram reproduzidas nos cenários montados no Teatro Municipal, para os espetáculos que marcaram época.
Quantos meninos e meninas, adolescentes e crianças, cresceram ouvindo canções que falavam do lugar onde nasceram. As barrancas do Sapucaí, as ondas verdes da Mantiqueira, as congadas de Santana, as revoadas de pássaros, latidos na madrugada. Lirismo na essência da palavra. Melodia e harmonia trabalhadas com paciência e alegria. Ensaios festivos, movidos banquetes e porres.
Quantos se decidiram diante do enigma do que ser quando crescer.
O Grupo Imbuia tinha uma coisa muito peculiar. Em torno do núcleo (Mesquitão, Jorge Carioca, Maurício, Raimundão) gravitava um universo de pequenos astros. Alguns viriam a crescer e ganhar vida própria, como Wolf Borges e Elder Costa. Outros, não menos felizes, cultivam ainda a arte de produzir arte. E viver a vida com dignidade. Músicos, atores, dançarinos, pintores, arquitetos, jornalistas...
Mas a vida tem seu curso, às vezes avesso às pretensões e necessidades. Uma pequena diáspora em curso. Cada um pro seu lado. Amizade acabando, de jeito nenhum. A gravitação aumenta os espaços de distância, mas que não afasta. A teia não se rompe com facilidade.
Imbuia é assim. Histórias sem fim.


Fábio Ribeiro (Paletó)

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